Wednesday, May 30, 2007

Encontro

Certo dia resolvi entrar e explorar um espaço de Sintra que sempre me intrigou. Um local onde o pé humano deve pisar raramente, mas mãos parecem operar para o manter perfeito.

Ao dar uns passos mais atrevidos do que o costume, sou subitamente envolvido por todo o ambiente.
A minha mente parece ficar hipnotisada com palavras magníficas e poéticas.


Ao longe o castelo ergue-se, secular e imponente, como um velho barbudo com olhar vivo e vivido. Um pensamento alto fez questão de ser pronunciado:

> Muitas histórias deves ter tu para contar...
» Oh sim, todas as que queiras imaginar...

Volto-me surpreendido por ouvir uma voz num local que sempre imaginei deserto, e deparo-me com um velho de barba branca, com olhar vivo e vivido, mesmo ao meu lado, a fitar o mesmo local que eu.
Tentei em vão responder a tal enigmática resposta, ao mesmo tempo que a tentava decifrar, mas a única reacção que tive foi fitá-lo.
Ele continuou impávido e sereno na sua postura, com os olhos fixos no castelo.

Resolvi afastar os pensamentos e forçar uma saída:
> Com tantos séculos, é possível.
» Não seriam precisos tantos séculos para isso, mas há quem prefira que assim seja.
> hum? creio que não compreendi...
» É exactamente isso que estás a pensar. Não é preciso um homem viver tanto tempo como este castelo, para ver tudo o que há para ver, até porque não consegues ver tudo o que pensas que há para ver.

Por esta altura penso que sorri, porque o velho de barba branca, com olhar vivo e vivido, afinal era mesmo vivido... mas isso já tinha isso deduzido, porquê fiquei surpreendido?
Seja como for, estava ainda desconfiado que brincava comigo, filosofava sobre algo ou simplesmente pensava em qualquer outra coisa.


> sim... acho que se calhar algumas coisas só poderemos compreender pela mente
» meu jovem, quando chegares à minha idade, irás pensar que muitas coisas não chegas lá só a mente.
> bom, por acaso já pensei muitas vezes nisso...
» Optimo! Sabes o que isso quer dizer?
> Que estou a ficar velho muito depressa?! » respondi num meio de um sorriso meio a rir «
» Significa que estás a abrir os teus horizontes e a tomar as rédeas da tua vida.
> ...

» Vá lá, não sejas modesto. Todos nós procuramos algo. Todos nós temos coisas que devemos elogiar para nós próprios. Todos nós temos vitórias que podemos festejar, mesmo que sejam mais pequenas.
> Confesso é que não tinha pensado nisso tudo desse modo, nunca pensei que significasse tanto. Parece-me um bocado exagerado ...
» Repito o que digo: todos nós temos coisas que devemos elogiar para nós próprios. Achas que é exagerado gostar de ti próprio? elogiar-te a ti próprio?
> Não, acho que é muito bom fazer isso, que por acaso não o faço muito é verdade... mas o que queria dizer é que às vezes é bom ser humilde e não sair a vangloriar-me de certas coisas.
» Vangloriar é vaidade, eu estou a falar de reconhecimento pessoal. Olha para as pessoas como se tratam a si próprias. Vai mais além do que dizem ou fazem à frente dos outros.
> Acho que estou a perceber o teu ponto. Falas da auto-crítica?
» Exacto. A maioria das pessoas passam o tempo a criticar-se em pequenas coisas, que se transformam em grandes dificuldades.
Porque não elogiar-se nas pequenas coisas? O que nos impede de avançar não é o que os outros dizem, é o que cada um pensa de si próprio... é o medo e a culpa!

O medo e a culpa são os únicos inimigos do homem!
> mas podem ajudar-nos em certas situações. Podem nos dizer que temos limites e às vezes os ultrapassamos.
» Estás a falar de consciencialização, não de culpa.
Digo-te isto: a culpa é uma praga sobre a terra - o veneno que mata a planta!
Não evoluirás pela culpa, apenas murcharás e morrerás.
O que procuras é a consciencialização. Mas a consciencialização não é culpa. E o amor não é medo.
O medo e a culpa, digo-te mais uma vez, são os teus únicos inimigos. O amor e a consciencialização, os teus verdadeiros amigos. No entanto, não confundas um com o outro, porque um matar-te-á, enquanto que o outro te dará vida.

Por um momento senti que era o Daniel-San e estava a receber ensinamentos do Miyagi, mas o que ele me estava a passar não era definitivamente Karaté!

> Então não devo sentir-me culpado de nada?
» Nunca, jamais. Para que serve isso?
Só serve para que não gostes de ti próprio - e isso liquida qualquer hipótese de gostares de mais alguém.

> E não devo ter medo de nada?
» O medo e a prudência são 2 coisas diferentes.
Sê prudente - sê consciente - mas não sejas medroso.
Porque o medo paralisa, enquanto que a consciência mobiliza.
Mobiliza-te, não te paralises.

Reparei nesse momento que estava rígido, com o olhar fixo no castelo. Olhei para o lado do velho e ele não estava lá mais. Mas há quanto tempo estaria eu a fixar o castelo?
Repentinamente, cairam os meus pensamentos habituais. Que horas seriam? Tenho de ir para casa, tenho coisas para fazer... mas para onde é que foi o velho???
Procurei em volta. Nada. Que raio? Em Sintra tudo é possível, mas esta conversa não teria com um fantasma... ou teria?

Fui... mas voltarei certamente, algo me diz que voltarei a encontrá-lo...

Wednesday, August 24, 2005

Mundo Híbrido...

Cada vez mais...

As pessoas , os animais, o mundo. Regulado pelas leis da natureza ou adulterado por um dos milhões que quer ter o toque de deus.

é assim o nosso mundo, perde a identidade ou permanece em contínua mutação.

A natureza mantém sempre um equilibrio de alguma forma, mesmo que não seja da nossa imediata compreensão, agora as nossas acções não se enquadram dentro do mesmo espírito. Mas estamos sempre a tempo de melhorar!